Impactos da crise do Covid-19 na Supply Chain
Publicado a 5 Junho 2020

Alastrada por todo o globo, a crise sanitária Covid-19 tem um impacto sem precedentes na cadeia de abastecimento. Para lidar com este desafio, os principais atores do setor tiveram que se questionar e repensar não apenas a sua estratégia e os seus processos, mas também os seus principais negócios.
Quais os impactos observados nos principais setores? Que problemas futuros poderão emergir? De que forma a gestão de aprovisionamentos e as necessidades dos clientes foram afetadas?
As principais tendências observadas desde o início da crise
O impacto do Covid-19 nos aprovisionamentos fez-se sentir desde o início da crise de saúde. No entanto, à medida que se desenvolve de país em país, descobre consequências díspares, dependendo do setor de atividade, mas também da complexidade da cadeia de abastecimento. Concentre-se em áreas-chave. Foco em áreas-chave.
Produtos alimentares e de primeira necessidade
No setor agroalimentar e da grande distribuição, não houve recessão. Pelo contrário, o encerramento de cafés e restaurantes e o confinamento resultaram no aumento de consumo das famílias e, consequentemente, em picos de pedidos e atividades de armazém, além de um aumento de 15% na venda online de produtos alimentares.
Transporte
O ritmo também permanece forte em termos de logística e transporte. A única desvantagem: a gestão pós-Covid-19 já é um problema no transporte marítimo e aéreo.
Se o tamanho dos barcos aumentou, o número de linhas marítimas diminuiu. Como responder à procura tendo em conta estas condições? O que fazer com os stocks pendentes nos portos asiáticos
Existe também a preocupação com o transporte aéreo, onde o encerramento total de um número muito grande de rotas corre o risco de causar rupturas de stock em determinados produtos.
Que medidas tomadas noutras áreas de atividade?
Outros setores, como vestuário, por exemplo, estão a passar por uma desaceleração muito forte, até uma paragem completa. Perante esta situação, verificamos dois tipos de reação:
- a suspensão de projetos e investimentos em curso;
- a aceleração dos projetos de transformação para exibir uma imagem mais agressiva após a crise.
Repensar a gestão de aprovisionamentos
Gerir a complexidade da Supply Chain
Nos últimos anos têm verificados o surgimento de cadeias de aprovisionamento complexas, no qual um grupo heterogêneo de fornecedores opera, distantes um do outro. Um modelo baseado na interconexão total, mas também em tecnologias e transportes que promovem fluxos globais. Problema: o encerramento das fronteiras e a interrupção das cadeias perturbam esse modo de funcionamento. Portanto, relançar a dinâmica requer esforços consideráveis por parte de todos os atores da Supply Chain.
As cadeias de aprovisionamento podem ser parcialmente reativadas para desbloquear o fornecimento de equipamentos de saúde. Menos afetadas, as cadeias locais dedicadas à alimentação e ao comércio eletrónico responderam de forma exemplar.
No entanto, o desafio agora é como repensar estas cadeias de abastecimento, para manter o nível de serviço aos clientes e para lidar com uma queda nos lucros de até 10 a 15%.
A crise sanitária expõe as falhas na cadeia de abastecimento
A situação de emergência sanitária causada pela Covid-19 colocou a descoberto vários pontos de alerta.
- Na área dos produtos frescos, a dependência de funcionários sazonais expôs-nos ao risco de escassez. Na realidade, as operações de matérias-prima têm de lidar com um declínio na força de trabalho, enquanto a produção deve continuar em níveis sustentados.
- Atualmente, a gestão just-in-time tornou-se uma realidade. A situação revela a necessidade de ter uma visão completa do stock disponível dos fornecedores para responder à procura dos clientes.
- A dependência que algumas indústrias têm dos principais players de importação é problemática para as indústrias francesas. Por esta razão, a gestão de riscos de toda a Supply Chain torna-se essencial.
Quais soluções para garantir o aprovisionamento?
Num contexto de crise, as empresas devem gerir condições de aumento de capacidade, o que as obriga a lidar com volumes cada vez maiores, ou mesmo a abrir armazéns com maior capacidade. A Supply Chain deve ser ágil, adaptável e equipada com todas as ferramentas essenciais de visibilidade. Isto leva-nos a outro grande desafio: gerir os sistemas de aprovisionamento da melhor maneira possível e ser capaz realizar implementações rápidas.
A crise sanitária também evidenciou a proporção significativa de dependência de componentes localizados fora da produção nacional. Isto foi particularmente visível na indústria farmacêutica, que enfrentou a escassez de máscaras em particular. Hoje, estima-se que cerca de 80% dos ingredientes ativos usados na Europa sejam produzidos em grande parte na China e na Índia. Há 30 anos atrás, essa proporção era de apenas 20%. A causa é uma transferência massiva de secções inteiras de máquinas de produção do setor para a Ásia1.
A questão da realocação deve, portanto, tornar-se crucial no curto prazo, a fim de reduzir os riscos para os aprovisionamentos. O multi-sourcing é uma das soluções previstas.
Com a crise, mudanças profundas devem ocorrer, tanto no comportamento do consumidor como na gestão de aprovisionamentos por parte das empresas. Para o conseguir da melhor forma possível, a digitalização de processos, a reavaliação dos sistemas de aprovisionamento existentes e a capacidade de se adaptar a novos padrões de consumo já são ativos essenciais.
1Source : Les Échos – 2020-2019 : la pandémie des pénuries de médicaments s'est répandue en France.https://www.lesechos.fr/industrie-services/pharmacie-sante/2010-2019-la-pandemie-des-penuries-de-medicaments-sest-repandue-en-france-1159647